quinta-feira, 3 de setembro de 2015

Tabu nosso de cada dia - Maior que as muralhas

*Este texto integrou o projeto "Tabuu - paradigmas da beleza", do qual fui Colunista e Editor de Conteúdo em seus quatro primeiros meses de existência.

“Jovem com Síndrome de Down quer ser modelo e mudar conceitos de beleza”. Como fiquei feliz ao ver essa notícia. O fato está ligado a uma jovem australiana, chamada Madeline Stuart, de 18 anos, e foi noticiado, originalmente, pelo Daily Mail no dia 15/05. 

Pessoas que têm Síndrome de Down estão muito mais suscetíveis a estar acima do peso. É uma questão biológica. No caso de Madeline, isso está relacionado tanto a sua condição genética quanto a problemas cardíacos. Entretanto, nenhuma dessas coisas a desmotivou para seguir seu sonho: ser modelo. Desde o ano passado ela vem superando essas barreiras, e certamente muitas outras, para conseguir atingir seu objetivo. 

A jovem conversou com sua mãe, Rosanne, e contou sobre a meta que gostaria de alcançar. A mãe, de prontidão, passou a ajudar e incentivar Madeline em seu caminho. Rosanne contou ao Daily Mail que a filha foi capaz de mudar o estilo de vida em apenas dois meses. Ela se esforçou para passar a ter uma vida mais saudável e perder peso. Até o momento a garota já conseguiu emagrecer 20 quilos, devido a prática de exercícios físicos e aulas de dança. Madeline já posou para um ensaio fotográfico e está em busca de um agente que a ajude a alavancar sua carreira de modelo.

O Tabuu já noticiou várias vezes (e já foi tema da minha coluna), que a beleza, em geral, passa por dois aspectos: sentir-se bem e estar em dia com sua saúde. Madeline decidiu que só se sentiria bem se renovasse seu estilo de vida, e tomou as atitudes necessárias para passar a ter uma vida saudável. Eu posso não a conhecer, ou não ter muitos detalhes sobre sua rotina, mas posso afirmar, sem medo de errar, que não tem sido nada fácil para a garota. Emagrecer, ainda mais 20 quilos, não é fácil para ninguém. É preciso muito, mas muito foco, determinação, disciplina e força de vontade para persistir no objetivo, pelo tempo que for necessário.

Depois de emagrecer vem o mais difícil: manter uma vida extremamente regrada para evitar que aquelas gordurinhas indesejadas retornem, causando o famigerado “efeito sanfona”. Imagine, então, como deve ser difícil para uma pessoa com Síndrome de Down e problemas cardíacos. Ter uma condição genética que facilite o ganho de peso, e que faça com que muitas pessoas te olhem torto, parece ser uma barreira quase impossível de vencer. A moça tem de enfrentar, diariamente, duas grandes muralhas: uma biológica e outra social. 

Não sejamos hipócritas aqui. Caro leitor, atente para o fato de que, provavelmente, Madeline vem frequentando alguma academia, participando de aulas de dança em grupo, natação, etc. Estar em um ambiente cheio de corpos esbeltos e malhados, de certa forma, incentiva, mas também pode causar receio. Essa sensação pode ocorrer com qualquer pessoa que frequente o ambiente fitness. Falo por experiência própria. Colocamos em nossa cabeça um determinado tipo físico a ser alcançado - e isso nos motiva, mas, ao olhar para o lado vemos o quão longe estamos de atingi-lo. Imaginar tudo o que teremos de passar para ficar com um corpo semelhante ao de um colega de academia, é, muitas vezes, desmotivador.

Só que Madeline parece não se deixar abalar por nada. Ela não só quer se tornar modelo profissional, como quer provar o valor das pessoas com Síndrome de Down, quer mostrar ao mundo que elas também são belas. A força de vontade dessa garota parece não ter fim. E ela não está sozinha nesse caminho; em entrevista ao site Bored Panda, Madeline contou que a marca Living Dead - caracterizada por estimular a diversidade dos corpos e das belezas - já lhe presta apoio. 

O mundo vem mudando. Obstáculos, antes intransponíveis, vêm sendo vencidos. Porém, tenho plena consciência de que pessoas com Síndrome de Down ainda sofrem muito preconceito. Essa jovem guerreira nos serve de exemplo para que não fiquemos usando desculpas para continuar em nossa zona de conforto. Madeline enfrentou as muralhas impostas pela sociedade, superou as dificuldades de sua condição genética e agora encara os holofotes que, como sabemos, não perdoam. 

A mãe dela diz que “devemos dar uma chance a eles (pessoas com Síndrome de Down), pois as recompensas serão maiores do que as expectativas”. E nós, que temos diariamente tantas chances, o que fazemos com elas? Qual é a desculpa que você vai continuar usando, para não tirar a bunda da cadeira e começar a praticar exercício físico e adquirir uma alimentação saudável para ontem? Madeline me ensinou, de uma vez por todas, que quando queremos somos capazes de quebrar, ou melhor, estraçalhar padrões de beleza, ou qualquer outra muralha que nos seja imposta. 

Grande abraço, seus lindos!

E um grande beijo especial para a Madeline, a futura modelo que vai abalar, tenho certeza. Eu e toda a equipe do Tabuu torcemos muito para que ela e tantas outras pessoas possam realizar seus sonhos!

Madeline Stuart tem Síndrome de Down, que é uma deficiência intelectual. Isso não a impede de vencer suas próprias muralhas. Assim como ela, milhares de pessoas com outros tipos de deficiência, vencem barreiras diariamente. Muitas delas são anônimas, invisíveis aos nossos olhos. Mas quando alguma dessas pessoas pinta na mídia, quase sempre nos dão lições de vida. Do mesmo modo como a jovem australiana fez. Confira o videoclipe de uma música perfeita para a ocasião. Que presta uma homenagem a todas as pessoas com algum tipo de deficiência. E que não cansam, nem de serem maiores que as muralhas, e nem de nos motivarem.



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