Os principais temas abordados foram a igualdade racial, cotas nas universidades, esporte, religião e desigualdade social.
Adão Juares Camões, atleta (maratonista) da SOGIPA, e Mãe Dolores, Ialorixá, estiveram na última quarta-feira (20/11) participando de uma conversa com os alunos de Jornalismo Impresso I, Redação Jornalística I e Redação em Relações Públicas II. Ambos participam do NEABI Unisinos (Núcleo de Estudos Afro-brasileiros e Indígenas). Camões é atleta com carreira internacional e Dolores é um dos membros do GDIREC (Programa Gestando o Diálogo Inter-Religioso e o Ecumenismo).
Mãe Dolores é, há dez anos, funcionária pública aposentada. Ela trabalhou por trinta anos na Brigada Militar. Mulher de personalidade forte, nascida em Lajeado, é casada há 40 anos. Durante o encontro, Dolores abordou muitos assuntos, dentre eles a (des)igualdade racial. Ela firmou que “igualdade é só uma faixada” e ainda disse que “já tivemos algumas conquistas, mas ainda temos muito chão para percorrer e muitas pedras para afastar desse caminho”. A Ialorixá não gosta da política de cotas para negros nas universidades.
Como exemplo, falou das novelas que fazem tanto sucesso em nosso país. Acusou a Rede Globo de racista. Tanto por não fazer novelas em que negros sejam protagonistas, quanto pelos papéis que estes desempenham nas tramas. Sempre são faxineiras, motoristas, jardineiros, mordomos, porteiros, etc. Não desmerecendo tais profissões, mas lembrando que é muito difícil ver um negro interpretando um professor, um político, um administrador, etc. Questionada à respeito de como vê o preconceito racial em nossa sociedade ela respondeu: “Somos ofendidos com olhares, gestos e ações”.
A religiosa presta assistência ao quilombo Morro do Macaco Branco já faz cinco anos. Ela participa com a arrecadação de roupas e alimentos. Realiza este serviço tanto com os moradores desse quilombo quanto com seus “irmãos de religião”. Além disso, Dolores faz um sopão para os moradores mais carentes que moram nos arredores de sua casa, no Bairro Feitoria. “Sou uma pobre que ajuda os pobres. Essa é a minha vida religiosa”, concluiu Dolores.
Adão Juares Camões, 62 anos, é natural de Montenegro. Nos primeiros anos de sua vida trabalhou na roça e cuidando de porcos. Sempre quis servir ao exército, mas na primeira tentativa foi impedido de entrar para o quartel por sua “condição de colono”. Lhe diziam que lugar de colono era na roça, e não no exército.
Camões sabia falar alemão mas o idioma acabou se perdendo. Quando Adão finalmente conseguiu servir no exército foi proibido de praticar a língua. Ele conta que um sargento com ascendência alemã sempre o repreendia, porque, segundo o tal sargento “negro não podia falar alemão”.
Depois de servir no exército se mudou para Porto Alegre e tornou-se atleta com carreira internacional. Mas sempre teve vontade de estudar. E após 20 anos de muitas lutas, conseguiu se formar em Educação Física pela Feevale. Segundo ele, “tanto os meus sonhos, assim como os de qualquer pessoa, para mim, não têm limites”.
Sobre o dia da consciência negra Camões diz que “consciência não tem cor”. E também questiona “se é um direito para todos então porque haver cotas?” (Sobre as cotas para negros em universidades).
De acordo com o atleta, o NEABI lhe deu uma oportunidade de se entender melhor como negro – Camões trabalha com crianças, é professor voluntário e orientador.
O NEABI Unisinos tem como objetivo geral – Articular ações e pesquisa, ensino e extensão, de caráter interdisciplinar – voltadas para avaliação e acompanhamento da implementação do Parecer CNE/PC 003/2004 e da Resolução CNE 001/2004 que tratam das Diretrizes Curriculares para a Educação e Relações Étnico-raciais e Ensino de História da África e da Cultura Afro-brasileira e Indígena, bem como, do Plano Nacional de Implementação das Diretrizes.
Já o GDIREC, grupo ecumênico do qual Mãe Dolores faz parte - integra a Área do Pluralismo Cultural e do Diálogo Inter-Religioso na Unisinos, junto ao NEABI. O GDIREC desenvolve um conjunto de projetos, atividades e serviços com vistas a proporcionar condições e espaços de conhecimento, reconhecimento e diálogo entre as diferentes confissões religiosas presentes na região e suas práticas sociais.
O Dia da Consciência Negra tem origem na década de 1970: um grupo de quilombolas no Rio Grande do Sul cunhou o dia 20 de novembro como o uma data para lembrar e homenagear o líder do Quilombo dos Palmares, Zumbi, assassinado nesse dia pelas tropas coloniais brasileiras, em 1695. A representação do dia ganhou força a partir de 1978, quando surgiu o Movimento Negro Unificado no País, que transformou a data em nacional.
Segundo a historiadora da Fundação Cultural Palmares, Martha Rosa Queiroz, a data é uma forma encontrada pela população negra para homenagear o líder na época dos quilombos, fortalecendo assim mitos e referências históricas da cultura e trajetória negra no Brasil e também reforçando as lideranças atuais.
Mailsom Portalete
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