segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

NO DIA DA CONSCIÊNCIA NEGRA, MEMBROS DO NEABI PARTICIPAM DE ENCONTRO COM ALUNOS DE COMUNICAÇÃO

Os principais temas abordados foram a igualdade racial, cotas nas universidades, esporte, religião e desigualdade social.

Adão Juares Camões, atleta (maratonista) da SOGIPA, e Mãe Dolores, Ialorixá, estiveram na última quarta-feira (20/11) participando de uma conversa com os alunos de Jornalismo Impresso I, Redação Jornalística I e Redação em Relações Públicas II. Ambos participam do NEABI Unisinos (Núcleo de Estudos Afro-brasileiros e Indígenas). Camões é atleta com carreira internacional e Dolores é um dos membros do GDIREC (Programa Gestando o Diálogo Inter-Religioso e o Ecumenismo).

Mãe Dolores é, há dez anos, funcionária pública aposentada. Ela trabalhou por trinta anos na Brigada Militar. Mulher de personalidade forte, nascida em Lajeado, é casada há 40 anos. Durante o encontro, Dolores abordou muitos assuntos, dentre eles a (des)igualdade racial. Ela firmou que “igualdade é só uma faixada” e ainda disse que “já tivemos algumas conquistas, mas ainda temos muito chão para percorrer e muitas pedras para afastar desse caminho”. A Ialorixá não gosta da política de cotas para negros nas universidades.

Como exemplo, falou das novelas que fazem tanto sucesso em nosso país. Acusou a Rede Globo de racista. Tanto por não fazer novelas em que negros sejam protagonistas, quanto pelos papéis que estes desempenham nas tramas. Sempre são faxineiras, motoristas, jardineiros, mordomos, porteiros, etc. Não desmerecendo tais profissões, mas lembrando que é muito difícil ver um negro interpretando um professor, um político, um administrador, etc. Questionada à respeito de como vê o preconceito racial em nossa sociedade ela respondeu: “Somos ofendidos com olhares, gestos e ações”.

A religiosa presta assistência ao quilombo Morro do Macaco Branco já faz cinco anos. Ela participa com a arrecadação de roupas e alimentos. Realiza este serviço tanto com os moradores desse quilombo quanto com seus “irmãos de religião”. Além disso, Dolores faz um sopão para os moradores mais carentes que moram nos arredores de sua casa, no Bairro Feitoria. “Sou uma pobre que ajuda os pobres. Essa é a minha vida religiosa”, concluiu Dolores.

Adão Juares Camões, 62 anos, é natural de Montenegro. Nos primeiros anos de sua vida trabalhou na roça e cuidando de porcos. Sempre quis servir ao exército, mas na primeira tentativa foi impedido de entrar para o quartel por sua “condição de colono”. Lhe diziam que lugar de colono era na roça, e não no exército. 

Camões sabia falar alemão mas o idioma acabou se perdendo. Quando Adão finalmente conseguiu servir no exército foi proibido de praticar a língua. Ele conta que um sargento com ascendência alemã sempre o repreendia, porque, segundo o tal sargento “negro não podia falar alemão”.

Depois de servir no exército se mudou para Porto Alegre e tornou-se atleta com carreira internacional. Mas sempre teve vontade de estudar. E após 20 anos de muitas lutas, conseguiu se formar em Educação Física pela Feevale. Segundo ele, “tanto os meus sonhos, assim como os de qualquer pessoa, para mim, não têm limites”.

Sobre o dia da consciência negra Camões diz que “consciência não tem cor”. E também questiona “se é um direito para todos então porque haver cotas?” (Sobre as cotas para negros em universidades).

De acordo com o atleta, o NEABI lhe deu uma oportunidade de se entender melhor como negro – Camões trabalha com crianças, é professor voluntário e orientador.

O NEABI Unisinos tem como objetivo geral – Articular ações e pesquisa, ensino e extensão, de caráter interdisciplinar – voltadas para avaliação e acompanhamento da implementação do Parecer CNE/PC 003/2004 e da Resolução CNE 001/2004 que tratam das Diretrizes Curriculares para a Educação e Relações Étnico-raciais e Ensino de História da África e da Cultura Afro-brasileira e Indígena, bem como, do Plano Nacional de Implementação das Diretrizes.

Já o GDIREC, grupo ecumênico do qual Mãe Dolores faz parte - integra a Área do Pluralismo Cultural e do Diálogo Inter-Religioso na Unisinos, junto ao NEABI. O GDIREC desenvolve um conjunto de projetos, atividades e serviços com vistas a proporcionar condições e espaços de conhecimento, reconhecimento e diálogo entre as diferentes confissões religiosas presentes na região e suas práticas sociais.

O Dia da Consciência Negra tem origem na década de 1970: um grupo de quilombolas no Rio Grande do Sul cunhou o dia 20 de novembro como o uma data para lembrar e homenagear o líder do Quilombo dos Palmares, Zumbi, assassinado nesse dia pelas tropas coloniais brasileiras, em 1695. A representação do dia ganhou força a partir de 1978, quando surgiu o Movimento Negro Unificado no País, que transformou a data em nacional.

Segundo a historiadora da Fundação Cultural Palmares, Martha Rosa Queiroz, a data é uma forma encontrada pela população negra para homenagear o líder na época dos quilombos, fortalecendo assim mitos e referências históricas da cultura e trajetória negra no Brasil e também reforçando as lideranças atuais.

Mailsom Portalete

PROFESSORES DA UNISINOS DEBATEM SOBRE A SITUAÇÃO DA MÍDIA NA AMÉRICA LATINA

Carlos Alberto Jahn, João Martins Ladeira e Bruno Lima Rocha discutiram, entre outros assuntos, a concentração dos meios de comunicação nas mãos de poucos, a falta de polifonia e a urgência de uma democratização da mídia. O debate, que faz parte da programação da Semana da Comunicação Unisinos 2013-2, ocorreu nesta quarta-feira (06/11) na sala 3D 109 das 19:30 às 22:00hs e contou com a mediação de Débora Gadret.


A conversa se deu através de uma explanação inicial dos debatedores à respeito dos principais assuntos que envolvem as mídias de massa na América Latina. Após isso, a partir de pautas propostas pela mediadora Débora Gadret e questões feitas pelos alunos que assistiam ao encontro, aprofundaram os temas centrais da discussão.

Carlos Alberto Jahn falou sobre a importância dos Marcos Regulatórios no processo de democratização das mídias. Propôs questões como a urbanização e de que forma as mídias afetam este processo. Lembrou dos grandes conglomerados midiáticos existentes na América Latina: Televisa no México; Grupo Clarín na Argentina; Globo e Abril no Brasil, etc.

Salientou os problemas da monopolização, como por exemplo, a falta de polifonia, de diversidade de temas e de “ofertas de sentido” - segundo ele, termo mais adequado do que “influência”. “Quantos negros ou indígenas aparecem nesses produtos de mídia?”, questionou Carlos. “Estamos migrando para um momento de convergência da mídia e as grandes indústrias continuam a dominar as ofertas de sentido”. 

Ele afirmou ainda que a falta de uma legislação competente é o que propicia a existência dessa concentração dos meios nas mãos dos poucos “donos da mídia”. A Constituição Brasileira de 1988 estabelece que é o Estado que deve emitir as licenças, autorizar, dar as concessões de mídias. Entretanto, boa parte dos congressistas são donos de jornais, rádios, televisões, etc. 

Por fim, Jahn pontuou a importância de movimentos sociais como FNDC e Intervozes que lutam pela democratização da mídia. De acordo com o professor, somos meros reprodutores de “mais do mesmo” e “muito pouco se cria de novo, apenas replicamos as ofertas de sentido das grandes indústrias”.

João Martins Ladeira iniciou sua fala dizendo que ”talvez existam dois mundos na televisão brasileira, um da TV aberta que é imutável e o outro da TV paga (por cabo, satélite...) segmentada e em constante transformação”. Ele falou principalmente sobre as transformações que a televisão brasileira vem sofrendo nos últimos 20 anos.

Segundo Ladeira, até os anos 1990 os canais de televisão estavam delimitados pelas fronteiras de seus respectivos países. No início da década de 90 a Globo e a Abril tentaram implementar a televisão segmentada. Não obteram sucesso e tiveram de se associar à grupos globais de comunicação. Por fim, acabaram por vender suas concessões de TV a cabo que, coincidentemente, foram (ambas) compradas não por empresas de comunicação, mas sim, por empresas de telecomunicação.

Graças a estes fatores, mais o advento da internet com, por exemplo, o streaming de serviços como o Net Flix, Ladeira afirmou que “as relações de poder (na mídia) estão mudando”.

Bruno Lima Rocha focou seu discurso no conflito de interesses existente em todas as indústrias de comunicação na América Latina. Ele ressaltou que é preciso que se crie condições para haver a polifonia e que “a extrema concentração de meios é evitável (apenas) através da política”. Falou ainda sobre a origem dos meios de comunicação na América Latina.

Rocha concluiu dizendo que só a democratização da mídia gerará a polifonia. E que, mais concessões de meios significaria mais empregos, mais repórteres e menos assessores. Nas palavras dele “mais gente batendo e menos gente defendendo”.

Mailsom Portalete

domingo, 24 de novembro de 2013

FAMÍLIA PERDE TUDO EM ENCHENTE*

*Matéria publicada no Portal Unicos (Unisinos Comunicação Social) e na edição 20 (novembro de 2013) do jornal Babélia - publicação experimental do curso de Jornalismo da Unisinos.

Clique aqui para visualizar a matéria no portal Unicos

Uma família de sete pessoas, residente do Bairro Feitoria/Madezatti, em São Leopoldo, perdeu quase tudo e precisa de móveis, eletrodomésticos e materiais de construção para fazer reparos na casa.


Jaqueline Carvalho, dona da casa, relatou que desde que mora no local já presenciou duas enchentes. Entretanto nenhuma tinha sido tão grave quanto a mais recente, que deixou a moradia completamente embaixo d’água. A enchente, a maior desde 1965, ocorrida em agosto, alagou completamente a residência da família.

A água levou embora praticamente todos os seus pertences. O pouco que se salvou foram alguns móveis como cadeiras, uma pequena estante de madeira, a geladeira e o fogão. Todo o resto, incluindo roupas e alimentos foi para o lixo. A estrutura do lugar também foi atingida: uma parede desabou e o chão também está em vias de cair porque as madeiras estão rachadas e apodrecidas.

Jaqueline Carvalho, 28 anos, desempregada, mora na mesma local há cerca de oito anos. Mãe de quatro filhos, com idades entre um e nove anos, ela convive com seu marido Roberson Oliveira da Silva há dois anos. A mãe dela, Dona Nilva da Silva também mora na casa. Roberson, 20 anos, é auxiliar de pedreiro e é quem, ao lado de Dona Nilva, dá o sustento para a família. Dona Nilva é aposentada, mas pouco consegue fazer com seu salário. Ela afirma que o que recebe não dá conta das despesas. “Eu sou aposentada, mas acontece que (o dinheiro) não chega”. Jaqueline que costuma trabalhar de doméstica não está trabalhando por não conseguir emprego.

Sem condições para reconstruir, a solução encontrada foi tapar a parede que desabou com uma lona, emprestada do irmão de Jaqueline. A casa permaneceu embaixo d’água por quase duas semanas. Neste período a família ficou no Centro de Eventos (antigo Imalas), na Avenida São Borja, que abrigou muitos moradores atingidos pela catástrofe.

Desta forma, a filha mais velha de nove anos não pôde ir à escola. Roberson também foi prejudicado: perdeu o emprego pois durante uma semana não condições para ir trabalhar: lhe faltava roupas e dinheiro para o transporte. Ele conseguiu um novo emprego, mas, afirma que, “não dá conta das despesas, porque paga muito pouco”.

Dona Nilva, padece de alguns problemas de saúde típicos da velhice como hipertensão e fraqueza nos ossos. A aposentada sofre com dores nas pernas e tem grande dificuldade para caminhar.

Os moradores da região vivem em uma área de risco. Eles afirmam que têm consciência disso, mas por falta de opção não podem sair dali. O local onde vivem é de área verde, as casas construídas no lugar são todas de pessoas que invadiram o terreno.

Sendo assim, além da condição precária das residências há problemas como a insegurança e a falta de saneamento básico, pois nenhuma das casas têm esgoto. “Já tentamos falar com a prefeitura, mas eles nos disseram que não podem colocar esgoto aqui porque é área verde”, afirmou Roberson Oliveira.

Todos os dejetos são escoados para a parte de trás das moradias onde fica um banhado; à céu aberto essa sujeira facilita a proliferação de inúmeras doenças. Além disso, os entulhos que ficaram da destruição causada pela água, na casa e nos móveis, permaneciam em frente ao terreno, mais de um mês após a tragédia.






quarta-feira, 25 de setembro de 2013

AULA INAUGURAL DOS CURSOS DE COMUNICAÇÃO DEBATE OS NOVOS RUMOS DA MÍDIA

O Auditório Central da Unisinos São Leopoldo sediou na última segunda-feira (9/9), uma conversa com o jornalista Bruno Torturra e o pesquisador Fábio Malini. Os convidados debateram sobre o “movimento” #vemprarua, o colapso das mídias tradicionais, a hashtag na qual vivemos e sobre como não só as ruas, mas também, as redes se tornaram local de reivindicações políticas.


Bruno Torturra é um dos principais idealizadores do coletivo Mídia Ninja (Narrativas Independentes, Jornalismo e Ação). Nascido em 2011, o coletivo é conhecido pelo ativismo sociopolítico e por se apresentar como uma alternativa à imprensa tradicional. Foi com os protestos deste ano que o Mídia Ninja ganhou repercussão mundial.

Fábio Malini é midiativista e coordenador do Labic/UFES. Cientista Social, é especialista em visualização de dados e big data. O pesquisador falou sobre como as redes de comunicação e informação influenciam relações de poder a partir das manifestações que aconteceram neste ano.

Malini e sua equipe mapeiam as redes desde 2011 e vem aprendendo como analisar grandes volumes de dados. Eles monitoram várias “redes de movimentos” como por exemplo as redes Guarani-Kaiowá e a rede Marco Feliciano. Analisam de que forma os movimentos da rua influenciam nas redes e vice-versa: “Nossas pesquisas tem como objetivo captar ações coletivas na rua e na internet”, afirmou Malini.

Estas análises de grandes volumes de dados permitem entender como o “movimento” #vemprarua se articulou e como transformou o vocabulário político do país. “Os protestos e as interações nas redes resignificaram a construção da imagem (política) da presidente Dilma”, concluiu Malini. Segundo o pesquisador, isso mostra o colapso da estrutura de intermediação da mídia tradicional.

Já Bruno Torturra iniciou sua fala destacando que: “é muito interessante estar em curso de Jornalismo neste momento da história do país”. Segundo ele, o formato da mídia convencional está em crise, e não só ela, todos os “formatos de mídia”, isto é, espaços que necessitam de um mediador entre o público e a informação (imprensa, governo, Igreja, etc) estão em crise. Torturra afirma que a causa desse impasse é a internet.

De acordo com ele, a rede deixou de ser apenas um espaço para expor preferências e construções de personalidade. Ela está se tornando um ambiente possibilitador de reivindicações e transformações políticas. Torturra disse que estamos “vivendo uma hashtag”, um momento de encruzilhada em que: “A rede e a rua estão se fundindo em uma coisa só” - uma não depende mais da outra, elas estão completamente integradas.

O jornalista lembrou também o motivo pelo qual o formato tradicional de mediação de informação está ultrapassado, ou como ele mesmo disse: “está se quebrando sozinho”: “Todos os leigos se sentem comunicadores e, portanto, necessitam de uma mídia apta para dar voz a todos estes eventuais comunicadores”.

O evento iniciou pouco após as 20 horas e encerrou-se por volta das 22 horas. A interação entre os convidados e o público se deu através do Facebook e de outras redes sociais com a hashtag #vempraaula.  Além do Auditório Central, os alunos tinham a oportunidade de acompanhar a palestra via streaming transmitido no site da Unisinos em duas salas do centro 3 da universidade.



Para maiores informações:
Assessoria de Imprensa Unisinos
Mailsom Portalete
Fone: (xx) xxxx-xxxx

e-mail: xxxxx@assessoria.com


PS.: ATENÇÃO ESTE É UM RELEASE DE CUNHO ESTRITAMENTE DIDÁTICO, UM EXERCÍCIO REALIZADO EM SALA DE AULA, E NÃO DEVE SER VISTO COMO UMA COBERTURA OFICIAL DA UNIVERSIDADE DO VALE DO RIO DOS SINOS.